Sete Áreas de Saúde no Ceará registram alta de casos de Covid-19 em uma semana

Autor: admin
Data: outubro 31, 2020

Diante do cenário de alerta, o governador Camilo Santana manteve por mais uma semana o atual decreto que reúne as normas de funcionamento das atividades econômicas no estado.

Sete Áreas Descentralizadas de Saúde (ADS) do Ceará, entre elas a de Fortaleza, tiveram aumento nos diagnósticos positivos de Covid-19 no período de uma semana, indica a plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Os dados se referem às Semanas Epidemiológicas 42 (11 a 17 de outubro) e 43 (18 a 24 deste mês).

As Áreas de Fortaleza (que inclui a capital, Aquiraz, Eusébio e Itaitinga) e Maracanaú (com Acarape, Barreira, Guaiúba, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba, Palmácia e Redenção) tiveram acréscimo de 21,6% nos casos, após os registros confirmados passarem, respectivamente, de 715 para 870, e de 162 para 197.

O aumento mais notável ocorreu na ADS de Camocim, que reúne cinco municípios. Nessa região, os casos passaram de 11 para 21, um acréscimo de 90,9%. A ADS de Itapipoca (Amontada, Itapipoca, Miraíma, Trairi, Tururu, Umirim e Uruburetama) teve 70,5% de alta, após o número de registros aumentar de 17 para 29.

Na sequência, a ADS de Baturité, onde estão Guaramiranga, Mulungu e outros seis municípios, contabilizou elevação de 23,5%. Em Cascavel, com sete cidades, o total de infectados saiu de 104 para 127, um aumento de 22,1%. A lista de áreas que tiveram avanço da Covid-19 termina com a ADS de Tauá (Aiuaba, Arneiroz, Parambu e Tauá), que teve crescimento de 13,2% nos casos, uma vez que os resultados positivos saíram de 98 para 111.

Já em relação aos óbitos, seis ADS registraram alta nas mortes causadas pelo novo coronavírus. A de Quixadá, que engloba 10 cidades, contabilizou 300% de aumento (de uma para quatro mortes). A de Sobral, na Região Norte, e a de Canindé tiveram 100% de alta. A de Juazeiro do Norte, que passou de cinco para oito óbitos no intervalo (60% a mais). Completam a lista as áreas de saúde de Fortaleza (+42,8%) e Tauá (+33,3%).

Em contrapartida, outras 15 ADS registraram recuo dos casos, com destaque para a de Limoeiro do Norte, que teve queda de 94,5%. A de Tianguá apresentou redução de 54,3% nos diagnósticos positivos, seguida pelas ADS de Crateús, com 45,5% de diminuição; Canindé (-45,2%); e Icó (-44,7%).

Decreto prorrogado

Na sexta-feira (30), o governador Camilo Santana decidiu manter por mais uma semana o atual decreto estadual com as normas para o funcionamento das atividades econômicas no Ceará. Segundo Camilo, o documento será prorrogado sem alterações, “para que se investigue mais a fundo o atual cenário e todos os indicadores”.

O titular da Sesa, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, confirmou, na quinta-feira (29), o aumento de casos de Covid-19 em regiões de Fortaleza, principalmente nas áreas vizinhas ao Bairro Meireles, pode representar “microssurtos” da doença. Todavia, o secretário destaca que é cedo para atestar uma segunda onda da doença no estado.

“Observamos aumento de um pequeno número de casos em algumas regiões. Não podemos falar ainda em segunda onda, seria precoce, mas estamos tomando os cuidados para monitorar”, frisou.

Inquérito sorológico

Nessas circunstâncias, a Sesa informou na sexta que a partir da próxima terça-feira (3) iniciará a quarta etapa do inquérito sorológico em Fortaleza para aferir quantas pessoas têm anticorpos contra o novo coronavírus ou que ainda estão vulneráveis à Covid-19. O diferencial da nova fase, que se estenderá até o dia 13 de novembro, com a testagem de 3.300 pessoas de 112 bairros da capital, será a realização da sorologia por meio da coleta de sangue venoso, ao invés dos testes rápidos, detalhou o órgão.

“Esse momento da pesquisa é muito importante porque a gente vai observar a circulação viral em diferentes territórios de Fortaleza e também poder quantificar o percentual da população que está suscetível à Covid-19. A gente convida a todos para fazer parte dessa pesquisa, recebendo os coletadores e os agentes comunitários de saúde”, diz a secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida.

Tendência de crescimento na capital

A cidade de Fortaleza, foi citada no Boletim InfoGripe, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), como uma das dez capitais brasileiras que apresentam sinal de crescimento moderado ou forte na tendência de longo prazo – seis semanas – de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e de Covid-19.

Os dados analisados nesse boletim se referem ao período entre os dias 18 e 24 de outubro. Além da capital cearense, Aracaju (SE), Florianópolis (SC), João Pessoa (PB), Macapá (AP), Maceió (AL), e Salvador (BA) apresentam sinal forte de crescimento. Já Belém (PA), São Luís (MA) e São Paulo (SP) têm sinal moderado. A Fiocruz destaca, ainda, que Fortaleza é uma das capitais que já completaram ao menos um mês com tendência constante de crescimento a longo prazo em todas as semanas.

Na análise da epidemiologista Caroline Gurgel, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), os dados do IntegraSUS já são suficientes para indicar que uma segunda onda do coronavírus já está se formando e vai acontecer.

“Nós ainda tínhamos uma população vulnerável. Pela quantidade de casos que houveram, não se atingiu a imunidade de rebanho. Houve um relaxamento, mas não só pela abertura do comércio. Muitas pessoas não conhecem alguém infectado ou que morreu, ou conhecem somente pacientes que tiveram um quadro leve. Aí começam a criar sua própria ideia de que isso ‘não é nada’, que é propaganda, é mídia. Minimizam a situação para se sentirem mais confortáveis para ir para shows, restaurantes lotado, agir como se nada estivesse acontecendo”, pondera.

Ela lembra que diante de estudos já realizados com outros vírus emergentes, é possível sugerir que a segunda onda de casos será pior que a primeira. “A chikungunya é um exemplo, e o H1N1 também. Foram momentos históricos que aconteceram conosco, por isso não duvido que o mesmo ocorra agora”, lamenta.

Gurgel, que também é virologista, reforça o efeito das aglomerações, que se tornaram mais comuns nos últimos meses, e o fato de que basta um infectado assintomático para transmitir e afetar uma grande quantidade de pessoas.

“Podemos voltar a vivenciar a superlotação de hospitais, sim, se não houver uma conscientização nesse momento, agora. As pessoas devem tentar evitar ir para grandes centros, locais fechados que não permitam a circulação de ar. E o uso de máscara é obrigatório, não tem como pensar em abrir mão”, diz.

FONTE: G1