O ‘Zuzu Real’ pode ser trocado por alimentos em uma mercearia social montada uma vez por mês na sede da Escolinha Arnobão
Usar o esporte como elemento para formar cidadãos e falar sobre educação financeira. Foi a partir dessa ideia que a Escolinha Arnobão desenvolveu uma moeda fictícia, o “Zuzu Real”, que pode ser trocada por alimentos pelos jovens que participam do projeto social no povoado de Tapuio, em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza. A primeira ação com o uso da moeda aconteceu no último sábado (11).
O “Zuzu Real” foi criação do economista e publicitário Paulo Henrique Donato, idealizador da escolinha, que decidiu montar uma mercearia social, trocando os alimentos das cestas básicas doadas pelo “dinheiro” simbólico e, assim, conscientizar os jovens sobre a importância da administração correta do dinheiro. (veja o vídeo acima)
“Durante a pandemia muita gente doou cesta básica para ajudar os jovens da escolinha. Em vez de pegar essas cestas e apenas repassar, criei o “Zuzu Real”, para trabalhar na cabeça daquele garoto que se ele juntar a moeda social vai reverter em benefício para a própria família. Se eles pouparem, podem trocar a moeda por alimentos e vão comprar a cesta básica sem perceber”, afirmou Paulo Henrique.
Trocando Zuzu por alimento
Mercearia social é montada uma vez por mês na sede da Escolinha Arnobão para a troca do “Zuzu Real” por alimentos. — Foto: Reprodução
Uma vez por mês o mercantil social é montado em um sítio, local onde também acontecem os treinos de futebol. Para receber o “Zuzu Real”, os jovens têm de participar regularmente dos treinos, o que garante cinco “Zuzus” por semana, totalizando 20 “Zuzus” por mês.
“Se for aniversariante ganha 10 Zuzus, se for um aluno aplicado pode sair de 20 para 40 Zuzus. É por mérito. A gente quer que eles vejam que estão conquistando”, explica Paulo Henrique.
Os alimentos disponibilizados na “baquinha” social possuem valores simbólicos. Arroz, macarrão, açúcar e feijão são 4 Zuzus. Farinha, leite e café, são 3 Zuzus e o doce é em promoção, você compra um e leva dois. “Os valores são determinados de acordo com o do mercado, para eles entenderem essas variações de preços”, disse o economista.
A cada participação nos treinos as crianças da escolinha recebem 5 “Zuzus” por semana, totalizando 20 “Zuzus” por mês, para serem trocados por alimentos. — Foto: Arquivo pessoal
Atualmente, a Escolinha Arnobão atende gratuitamente 60 jovens, de 11 a 17 anos. Os primeiros a serem beneficiados com o “Zuzu Real” são 30 garotos do sub-11 e sub-13.
Segundo Paulo, o Banco Social da escolinha conta com a distribuição de alimentos doados por parceiros, um deles é o empresário Samuel Pinho. Porém, para que o projeto seja ampliado para todos os alunos, é necessária a adesão de outras pessoas.
“Devido ao grande número de alunos estamos buscando ampliar nossa rede de parceiros, para podermos auxiliar todos os jovens da escolinha da melhor maneira”, afirma.
Assim como o nome da Escolinha foi escolhido por Paulo para homenagear o pai, seu Arnóbio, o mesmo requisito foi usado por ele para definir o nome da moeda, chamada de “Zuzu Real” em homenagem à mãe, dona Zuíla. “Meus pais são as pessoas que tenho como referência para minha vida”, define.
Além de educação financeira e atividade física, os educadores também incentivam os jovens no desenvolvimento das atividades escolares.
Criação da escolinha de futebol
Paulo Henrique Donato (à esqueda) e Cláudio Nobre (à direita) são os idealizados da Escolinha de Futebol Arnobão, projeto que desenvolveu a moeda “Zuzu Real”. — Foto: Arquivo Pessoal
Este mês a Escolinha Arnobão completou 11 anos de existência. Segundo Paulo, mais de 600 jovens já passaram pelo projeto, que nasceu com a ajuda do amigo dele, o contador Cláudio Nobre.
“Estava jogando bola com ele e uns amigos e percebemos que as crianças ficavam no muro, olhando a gente. Então começamos a chamá-las para jogarem também”, relata.
O projeto, que começou com sete crianças, até hoje é coordenado por Paulo e Cláudio, com a ajuda do professor de educação física Carlos, que foi aluno da escolinha de futebol na infância, se formou e retornou para ajudar os outros jovens da região. Outro ex-aluno do projeto, o Jefferson, também está fazendo faculdade e auxilia nos treinos.
Jogador Jardeu Ribeiro com 13 anos (à esquerda) participando da Escolinha Arnobão e em atuação pelo Santos (à direita). — Foto: Arquivo pessoal
Além dos que voltaram para ajudar na escolinha, há também os que se tornaram jogadores profissionais de futebol, é o caso do atacante Jardeu Ribeiro, que já atuou pelo Clube de Regatas do Flamengo e pelo Santos Futebol Clube.
Para participar do projeto, os jovens devem estar regularmente matriculados na escola e passam por uma seleção. “Tudo é feito sem vínculo financeiro. A gente faz isso porque acredita que o esporte pode ser usado para formar cidadãos, que é o que vem acontecendo”, disse Paulo.
FONTE: G1