G1 lista algumas iniciativas que mais tiveram destaque na capital e no interior do estado e que seguem em andamento, um ano depois de terem sido iniciadas
A solidariedade sempre foi uma das mais importantes características do povo baiano. E uma das marcas do primeiro ano da pandemia no estado foi o grande número de ações desenvolvidas para ajudar a diminuir os impactos da crise.
O G1 listou algumas das iniciativas que mais tiveram destaque na capital e no interior da Bahia e que seguem em andamento, um ano depois de terem sido iniciadas. Confira abaixo:
União Bahia e Liga do Bem
União Bahia distribuiu 20 mil cestas básicas — Foto: Divulgação/Liga do Bem
Por causa do aumento dos casos e dos impactos causados pela Covid-19, a União Bahia retomou as arrecadações neste mês. Em março de 2020, logo no começo da pandemia, movimentos sociais se uniram para arrecadar doações através de uma plataforma online, com o objetivo de distribuir alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade social em Salvador e outras cidades baianas.
Gerida pela Liga do Bem e pelo Instituto ProBem, a União Bahia reuniu seis ONGs e mobilizou dezenas de voluntários na capital e no interior do estado e chegou a distribuir 20 mil cestas básicas em um ano, além de doar produtos de limpeza e higiene, máscaras e álcool em gel. Moradores de trinta municípios foram beneficiados pela iniciativa.
“O movimento conjunto perdeu um pouco de força a partir de setembro do ano passado, pois as doações caíram muito. Mas a Liga do Bem não parou”, afirma Nélio Chagas, que é presidente da União Bahia e também fundador da Liga.
Ação da União Bahia no interior do estado — Foto: Divulgação/Liga do Bem
Além de distribuir alimentos, a Liga do Bem precisou se adaptar para manter o trabalho social nas sete cidades onde está presente. Com as medidas de isolamento, as ações presenciais foram substituídas por oficinas para professores, no âmbito da educação comunitária e do incentivo à leitura, além de capacitação para o empreendedorismo feminino.
Foram suspensas as caravanas que levavam serviços básicos para o sertão baiano, como atendimentos em saúde e projetos educacionais, construção de banheiros, poços, cisternas, entre outros.
Ação da Liga do Bem no município de Heliópolis — Foto: Divulgação/Liga do Bem
Antes da pandemia, as viagens ocorriam a cada dois meses. “No fim do ano passado conseguimos fazer uma caravana. Além dos atendimentos em saúde, construímos uma biblioteca e uma brinquedoteca”, detalha Nélio. A ação foi realizada em Heliópolis, no nordeste do estado.
“A realidade no sertão é muito difícil. As pessoas não têm o básico para viver. Tem muita gente passando necessidade, passando fome mesmo.”
Ação da Liga do Bem no município de Heliópolis — Foto: Divulgação/Liga do Bem
Através da Liga do Bem e pelo Instituto ProBem, a União Bahia retomou as ações e está agrupando novos participantes. “Já voltamos com a campanha, mas está muito difícil conseguir as doações, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas, sejam de alimentos ou de dinheiro”, comenta Nelinho, como é conhecido.
ONG Ação da Cidadania
Cestas básicas da campanha Brasil Sem Fome que foram entregues em Salvador, em 22 março de 2021 — Foto: Divulgação/Assessoria
Conhecida em todo o Brasil, a ONG carioca Ação da Cidadania, criada pelo sociólogo Betinho, distribuiu 60 toneladas de alimentos na Bahia, em 2020. No mês passado, por causa do aumento de casos de coronavírus em todo o país, duas mil cestas básicas foram enviadas pela organização, como parte das ações do projeto Brasil Sem Fome.
No dia 22 de março de 2021, Salvador recebeu mil cestas básicas da campanha. As entidades contempladas foram: Pastoral do Negro (450 cestas), o Comitê Salvador da Ação da Cidadania (450) e a Instituição Assistencial Beneficente Conceição Macedo (100 cestas).
Donativos entregues no IBCM, em Salvador — Foto: Divulgação/Assessoria
Para Rodrigo Kiko Afonso, diretor executivo da Ação da Cidadania, a escassez de não ter alimentos em casa não é uma realidade apenas de quem ficou desempregado ou de quem está sem condições de comprar o que comer só na pandemia. É também um drama de organizações que ajudam o próximo.
“Percebemos que a pandemia da Covid-19 fez com que as doações caíssem consideravelmente e modificou as ações desenvolvidas pelas entidades. Precisamos ajudar com urgência. Betinho sempre dizia: Quem tem fome, tem pressa”.
A Ação da Cidadania criou a campanha Brasil Sem Fome em fevereiro. As ações seguem até o mês de julho. “A Ação da Cidadania entende que essas doações vão ajudar e suprir a necessidade do momento, mas é necessário que os governos pensem em algo no longo prazo e desenvolvam políticas públicas mais eficientes para minimizar a situação caótica”, diz Kiko.
Mães da Favela
Cufa realiza ações na capital e no interior — Foto: Divulgação/Ascom
Com o aumento do número de casos do novo coronavírus em todo o Brasil, a Central única das Favelas retomou no início de março, o programa “Mães da Favela“. O projeto foi criado há um ano com o objetivo de mobilizar a sociedade a auxiliar as mães solos de periferia no enfrentamento dos impactos da crise. Em 2020, foram distribuídas aproximadamente 45 mil cestas básicas e três mil cartões com vale-alimentação, além de vales para a compra de botijões de gás, álcool em gel e máscaras.
Para a segunda fase do projeto na Bahia, está prevista a distribuição de quatro mil cartões, com duas parcelas de R$ 120, além da distribuição de máscaras, álcool em gel e comida. As famílias beneficiadas são cadastradas previamente por voluntários nas localidades onde a Cufa está presente (Salvador e cidades da região metropolitana, além de outros 10 municípios baianos, como Feira de Santana, Santa Rita de Cássia e Porto Seguro).
No ano passado, o trabalho da Cufa foi fortalecido pela chegada de voluntários, especialmente mulheres, muitas delas beneficiadas pelo projeto ‘Mães da Favela’. Uma delas é a dançarina e professora de dança afro, Caroline Xavier de Almeida.
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Caroline Xavier de Almeida fala sobre trabalho voluntário na Cufa
Ela tem uma filha de um ano, é solteira e mora com a mãe no bairro de Sussuarana, em Salvador. Com as atividades culturais e artísticas suspensas, Caroline contou com a ajuda da Cufa para garantir a sobrevivência da família. “Eu me sentia no dever de ajudar, de retribuir a ajuda que estava recebendo”, conta. Como já tinha participado de cursos oferecidos pela Central há alguns anos a dançarina decidiu colaborar e agora está envolvida com outras mobilizações comunitárias.
“É um momento delicado, pois a gente precisa se isolar, mas também precisa ajudar as pessoas. Não me sinto privilegiada, longe disso, mas percebi que tinha gente em situação menos instável que a minha, então senti muito forte dentro de mim esse desejo de ajudar.”
Padaria oferece pães de graça
Padaria Santa Fé, em Itabuna — Foto: Ana Clícia Santos / Arquivo Pessoal
A padaria Santa Fé, que fica em Itabuna, no sul da Bahia, existe há 85 anos e tem como tradição doar pães para as pessoas que passam dificuldade. Com o agravamento do desemprego por causa da pandemia, os proprietários decidiram reforçar a iniciativa, em abril do ano passado.
Eles colocaram um cartaz, com os seguintes dizeres: “Se acabou seu dinheiro e está sem trabalhar, favor pegar um desses pacotes de pães”. O alimento foi disposto em cestos. O gesto sensibilizou os clientes, que passaram a doar também pães para que fossem entregues no próprio estabelecimento, para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Do ano passado para cá, a ação não parou sequer um dia. “Não vamos deixar de doar, é algo que já faz parte da nossa padaria”, diz a empresária Ana Clícia Reis. Ela conta que após a retomada das atividades comerciais, houve uma queda na procura pelos pães e também nas doações dos clientes.
Agora, porém com o aumento dos casos de coronavírus, a procura aumentou e em alguns dias são doados 150 pães; antes a média era de 90 pães. “Tem gente vindo de longe pegar, às vezes é a única coisa que a pessoa tem para comer. O bom que é as colaborações também aumentaram. Montamos até algumas cestas básicas com alguns clientes e doamos para famílias mais pobres “, afirma.
Música que salva
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Músico toca trompete pelas ruas de Salvador e arrecada alimentos para doação
Devido à necessidade de isolamento social, muitos músicos estão sem poder trabalhar. O caso do trompetista Marco de Jesus Oliveira, de Salvador, não foi diferente. No entanto, em vez de ficar parado, ele colocou o seu dom musical em prol da solidariedade e criou o projeto ‘Trompete Amigo e Solidário‘, que percorre as ruas da capital tocando o instrumento musical e arrecadando doações [assista ao vídeo acima].
A primeira apresentação ocorreu em maio do ano passado, em virtude do Dia das Mães, e desde então o músico não parou mais. Ele vai até algumas ruas, toca de três a cinco músicas na frente das casas. A curiosidade faz com que as pessoas parem para olhar a performance nas sacadas, janelas e calçadas. Quando termina o número, Marco se apresenta e pede doações de alimentos e produtos de limpeza.
“A participação é muito boa, inclusive nos bairros populares. Isso mostra que, muitas vezes, quem menos tem é quem mais dá”, comenta. Ele lembra que certa vez, arrecadou mais de 100 quilos de alimentos em uma noite, apenas, no bairro da Caixa D’Água. Os donativos são entregues para famílias que estão passando por necessidade e também em entidades sem fins lucrativos da capital baiana.
Marco calcula ter arrecadado mais de cinco toneladas de alimentos em quase 12 meses. Agora, ele conta com a ajuda de amigos nas atividades de arrecadação, montagem e distribuição de cestas e outros donativos.
FONTE:G1